Os dedos, o cabelo, a jaqueta –
tudo embebe a lembrança do almoço de antes. Um kebab delicioso, embora lhe
faltasse, pelas minhas restrições enzimáticas, um tal iogurte turco, pra lhe
melhorar ainda mais o paladar. Tudo para ser comido em grande estilo sentada num
banco de concreto em frente ao também amarelo anexo do museu Lehnbachhaus, não
fosse a disputa incessante com um impertinente pombo às voltas do meu momento.
O colega latino ao lado, se arriscando na lição de alemão, finge qualquer
espanto diante dos meus espasmos. Do outro lado, a criança branca investia
medrosa as várias migalhas da casquinha de sorvete em direção ao famigerado pássaro,
incrementando o episódio terrivelmente longo.
Vencida, ainda mastigando, catei
a garrafa com o resto do suco de maçã e bati, decidida, em retirada. O passo
duro, a cara empinada, talvez toda a postura passasse uma ideia de pessoa bem
localizada na capital da Baviera, de modo que uma senhora, a despeito do meu
status de turista, se aproximasse e me pedisse orientação. Era seu o meu
objetivo, visitar a Pinakothek der Moderne, mas sua localização exata eu
secretamente ignorava. Ainda sim, dei qualquer apontamento e rompemos, cada uma
em seu próprio zigue-zague, marcando uma distância segura, em direção ao museu
onde, minutos depois, ela, descendo a escada para o guarda-volumes, e eu,
ascendendo para encontrar o All Star amarelo de Andy Warhol, nos sorrimos
docemente.