terça-feira, 26 de junho de 2012

cat

Descalço, toca os pés acima do chão. De voz, Elis te alcança para além do Menino Deus. E nesse sexo de anjo, me faz querer ser uma nota, apenas verbo, qualquer coisa de sublime pra te encontrar. Mas, mesmo assim, me busca, como um carro atrás do outro no asfalto, negro de varredura, como a memória de teu gesto, tenro e genuíno a rodar a cabeça em eloqüência ou cantando baixinho como quem pede desculpas ao pé da cama.
Você, no propósito, é aquele que toca o coração da princesa presa na torre, mostra-se em espinho que perfura o dedo num broto de sangue, valsinha de casamento e velório, rosa murcha do que sobrou de uma despedida. Onde sua alma vai para além da idade do que se vive no mundo dos que somente são? O que de mulher em você consegue doer a mulher que há nos outros? Em mim, sobrou só o sentir pra pouca resposta. E aqui, no plano do plano, seus dedos de unha roída plantam alguma coisa além do chão. E no escuro inevitável do ruído surdo de sua lembrança, o bonito e doído da vida se me mostram, então e em diante, pelo seu gesto, pelo seu som.

(de e em direção a Filipe Catto)

terça-feira, 19 de junho de 2012

telhados de paris

Venta, ali se vê
Aonde o arvoredo inventa um balé
Enquanto invento aqui pra mim
Um silêncio sem fim
Deixando a rima assim
Sem mágoa, sem nada
Só uma janela em cruz
E uma paisagem tão comum
Telhados de Paris
Em casas velhas, mudas
Em blocos que o engano fez aqui
Mas tem no outono uma luz
Que acaricia essa dureza cor de giz
Que mora ao lado, mas parece outro país
Que me estranha, mas não sabe se é feliz
E não entende quando eu grito
Eu tenho os olhos doidos, já vi
Meus olhos doidos são doidos por ti
O tempo se foi
Há tempos que eu já desisti
Dos planos daquele assalto
De versos retos, corretos
E o resto de paixão, reguei
Vai servir pra nós
E o doce da loucura é seu, é meu
Pra usar a sós

Por acaso você sabe quanta falta você faz pra mamãe?

quarta-feira, 6 de junho de 2012

a tear drop

Start spreadin' the news,
  I'm leavin' today
  I want to be a part of it,
  New York, New York...
  These vagabond shoes
  Are longing to stray
  Right through the very heart of it,
  New York, New York...

  I wanna wake up in a city
  That doesn'tr sleep
  And find I'm king of the hill,
  Top of the heap...

  These little town blues
  Are melting away
  I'll make a brand new start of it,
  In old New York...
  If I can make it there,
  I'll make it anywhere
  It's up to you,
  New York, New York...

  New York, New York...

  I want to wake up in a city
  That never sleeps
  And find I'm A-number-one,
  Top of the heap,
  King of the hill,
  A-number-one...

  These little town blues 
  Oh they're melting away
  I'm gonna make
  A brand new start of it
  In old New York
  A-a-a-nd if I can make it there,
  I'm gonna make it anywhere
  It's up to you,
  New York, New York...
  New York...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Me incomoda hoje, me dói o contraponto das coisas, o outro lado de um espelho assimétrico.
Ser dois e ser dez e ainda ser um, que proposta difícil.
E parece ser a minha proposta, a minha realização.
No caminho pra casa (casa?), o destoante já aparece nas esperas das filas de aeroporto. Uma que parece exagerar no blush, enquanto as paulistanas estão sempre e milagrosamente com as bochechas rosadas por alguma obra da natureza. E esse descompasso, esse açucarado que chega a doer no fundo da boca me traz o ridículo de coisas, de pessoas que me olham com juízos tortos, mal sabendo que as tenho como personagens com pouco viço nas estórias da vida, engrenagens faltando dentes. Esse asfalto que tomo – e que custo a tomar – se faz como um deserto e se a vista alcança longe é também porque não tem nada nem ninguém por perto, mesmo que o contrário sejam prédios de concreto e anônimos esbarrantes.
Lá, durmo quietinha, como quando sabia estarem os pais no quarto ao lado, mesmo quando uma motocicleta solitária te fazia perceber o vazio da noite. Durmo quentinha no quarto escuro e o sol de manhã vem filtrado em névoas avistadas de cima, convidando ao abrir das cortinas. Aqui, até a lua cheia me incomoda, talvez por me mostrar o mato de mim, o vazio que se despela como se estar em cima desta cama fosse o mesmo que estar por entre as árvores.
E nessas horas, nada se decide, tudo quer descolar, tudo em mim me coloca contra a parede e só o ipê, a paineira pra aliviar.