quinta-feira, 18 de outubro de 2012

De cabelos molhados numa manhã de quinta-feira. Só ele, na verdade. Ela, de longos secos. Teriam passado a noite juntos, agora se bebericavam, se apoiando um no outro no metrô. Mais de quarenta, os dois. Ela deixa escapar aos meus ouvidos um pouco distantes as entonações de um sotaque anasalado, atestando a procedência desses interiores, como se, antes, pelas vestes em laços, quase franjas, e unhas coloridas por escapar das sandálias, não fosse possível a mesma conclusão. Felizes, enamorados de pouco, com certeza. Suaves, quase sem chamar a atenção das sonolências em volta. Ele, querendo ser homem, se projetando no que fosse protegê-la das curvas do trem. Ela, quase uma menina-velha, de cotovelinhos se juntando em direção ao peito dele, não fosse pela discreta malícia de escorregar a língua pra dentro da intenção dele na parada da penúltima estação.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Bolsas plásticas vermelhas-cerâmica apertadas em fissuras e finos vincos indo explodir em serragem de almofadas de petecas baratas de infância ou vísceras de Adriana Varejão.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ela estava num hotel em São Paulo. A névoa, como que rente à janela, era quase uma companhia numa noite para outras cobertas. A lua, encoberta; só imaginação. Os aviões cortavam o céu vermelho, lembrando, de tempos em tempos, o mundo lá fora.
Do outro lado, um traço se fazia, um novelo desapercebido, fio da costura na ignorância do notar-se uma pequena ponta. Do outro lado, companhia nem de aviões ou cobertas.
E no caminho, o encontro do que nem se sabe procurar-se, documento debaixo da cômoda, foto perdida no livro antigo, tesouro de infância, dinheiro na lavanderia. Depois do encontro, o precioso do desconhecido, nunca mais perder-se.