sexta-feira, 28 de março de 2014

Caiu no chão como um saco murcho. Cai-se bem na ficção: lânguido lúgubre belo esmaecer. Na vida, no metrô, no asfalto não é bonito de se ver.
Carne que esqueceu-se ser ainda viva assentando mosquito – bicho oportunista.
Quebrou como vaso de cerâmica desfazendo o conteúdo de esterco onde deixou-se de plantar qualquer coisa.
Partiu-se como moranga madura querendo explodir no sol da roça (do avesso as sementes ganham o mundo lá fora).
Não se inquieta qualquer lambada de peixe no córrego, qualquer espernear da cigarra, as esquizofrênicas guinadas no trotar, o pescoço que parece ventar a pouco custo. Nada segura o pneu ladeira abaixo, nem a nódoa reluzente que traz pro homem simples um conceito de cristal insistindo pelas frestas da casca. Nada segura o que, por relance, por insistência, por frívola incidência, toque repetitivo da unha, como o incansável monjolo, quiseram, fizeram, forjaram. Abrupta corrente, tempestade de não dar tempo de tirar roupa do arame, bolha de melado quente, os perigos todos que se rompem como uma tramela, mostrando um outro mundo, o mundo de luz seca de cegar os olhos, o mundo do silêncio (enterraram o bebê numa caixa de sapato, os olhos pareciam olhos de boneca, olhando pra lugar nenhum), o mundo de ausência.

Durmo no chão junto. Ligo a lamparina, porque não durmo. 

quinta-feira, 27 de março de 2014

Costuraram a seco. A agulha mergulhava em pele seca como areia para encontrar ar do outro lado e repetir o movimento. Infinitas vezes. Nem sangue coloria porque a nada era devido transbordar. Foi instituído que se contivesse qualquer líquido, qualquer lágrima.
Sobra nem ar dentro do peito, parece tudo uma poeira cansada que não se revolve. Nenhum redemoinho, vento, sopro. Tudo é velho e não háligaçãoexternadenadacomnada. Dentro é um oco, como a bexiga de um carneiro sangrado ressecando no varal.

Fio que parece a estrada ou o trilho do metrô. Lugar de levar a lugar nenhum. Nenhum cânion, nem falésia, nem poesia em pedras ou coqueiros. Fim-de-semana é palavra amarela que subsiste em outros lugares, outros ouvidos, outros olhares.