quinta-feira, 22 de agosto de 2013

à guisa de explicação

“e eu corri pro violão lamento e a manhã nasceu azul, como é bom poder tocar um instrumento...”
Critério. Coerência. Meus fantasmas. Lua em virgem? Não sei.
Quota de quotidiano foi a transição de uma coisa. Antes, era o chaodealecrim, o blog que ficou comigo por quatro anos. Mas aí quis mudar, aquilo tudo cansou. Pensei numa ideia de uma crônica mais cotidiana, umas coisas assim, aí, veio o nome. E quota era parcela, mas, também, quote, no inglês, uma coisa de referências que pairam por aí.
Mas já há um tempo me incomodava pensar que o título do blog não andava muito fiel ao conteúdo que se foi estabelecendo. Não que o cotidiano não permeasse a escrita, as questões, mas não era bem por aí. Era uma outra coisa. Então, aí vai, outro nome, outra cara, de novo. Algo mais condizente, eu acho. Não sei.
Mas, pra mim, e, agora, nada mais verdadeiro do que a selva – a de dentro, a de fora – pra poder traduzir.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Os vitrais de madeira escura fazem do olhar um quadro de se olhar de dentro pra fora. Pensamento perdido no tempo se adjetiva de cenas mudas de um dia comum – ninguém sofre, ninguém morre, ninguém chora. De cima, tudo anda devagar.
Da janela, com essa luz, fica parecendo que se sugere uma paz, uma felicidade, um jeito suave de se olhar os eventos externos a contagiar a esponja saturada de dor a gotejar aqui dentro. Não. A foto rasa dos passantes, as alegrias se me esfregando como brocha cheia de água e cal, os verdes se deixando tocar pela luz enviesada, tudo encena raiva, inveja, tudo vem ser criptas insolentes me lembrando que o que dói, o que é feio, o que é censurável em palavras que não se significam só o são do lado de dentro. Do lado de dentro. Como se se pudesse virar do avesso um bucho, como se, esticando-se a mucosa, o movimento lento, forjado revelasse as microvilosidades todas pelas particularidades que se escondem por detrás de uma superfície lisa. Nada é liso, nada é claro, transparente. No muco ralo, sempre aparece um pouco de sangue, de catarro. Os interiores.
E, lá fora, dá vontade de maldizer tudo. Dá vontade de que o mundo amanheça cinza amanhã. Que tudo vire lodo e lama. Que tudo vire nódoa, esgoto. Que esses sorrisos caiam como dentes cuspidos em sangue. Dá vontade de que ninguém tenha vontade de nada. Porque os passantes, as pessoas-paisagem, de tanto posar à foto, de tanto gastar as cotas de uma felicidade medíocre, desperdiçam-na em tinta fraca, roubam o que, de pouco em pouco, poderia ser de verdade feliz em mim.