sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Eu desisto
Não existe essa manhã que eu perseguia
Um lugar que me dê trégua ou me sorria
E uma gente que não viva só pra si

Em algum lugar escondido por pedras que não indicam um caminho é 1988. Usa-se uma camisa polo lilás que alguém esqueceu em casa e ela passou a fazer parte dum acervo comumente povoado de camisetas de campanha política ou campanha salarial ou qualquer luta. De punhos rentes, fazia com que os braços tivessem bíceps fortes. Eu gostava de me perder de admirar.
Ao que se discutia alto, porque se discutia tanto e ao mesmo tempo na mesa de lata enferrujada, ainda que cervejas geladas em copos Nair untassem a fala, pigarreava-se, um pouco do frio, um pouco do tanto dizer, o que poderia ser rebatido com um caldo de mocotó em outro lugar, onde alguém recomendasse que se desse a saideira.
Cruzavam-se os braços com o dedão debaixo das axilas, o que, de novo, colocava a camisa e o apresentar-se dentro dela como uma coisa bonita de se ver, tão apropriado parecia.

Eu, secretamente, aguardava o dia em que, novamente, após o talco Banho a Banho, a cabeça descabelada se enfiasse por dentro da gola da camisa polo lilás e o herói se compusesse, abotoando-lhe até o pescoço, em pomo rente, pelas aparências que ela fazia emergir e justificava. 

Um comentário:

  1. tentei 3 , mas a virtualidade parece ser também literária ou poética o bastante que basta o olhar e não as lembranças!

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