segunda-feira, 8 de abril de 2013

blow out

Os índios no Xingu raspam a pele pra tirar o sangue ruim. Da pele quente sai fumaça, do seu olhar – um olhar em brasas.
A amante, no auge de toda entrega, lhe sangra o cotovelo, tirando o sangue ruim, libertando o jovem Franz da dormência que lhe invalidava o braço, o viver, o sentir – sabe-se lá.
Sangrar o sangue ruim, o sangue pisado, a água turva e empoçada, romper a bexiga purulenta que segura o que não quer sair.
Por certo que me deveriam sangrar o coração inteiro, o invólucro escuso que represa a lava morna e petrificada que, de espessa e suja, não passa por veia nenhuma, deixando o corpo frio como o de um filhote moribundo, e que não encontra forças nem pra morrer. (É preciso esforço até pra morrer).
A cama, o chão, o azulejo, toda superfície é fria, dura, cortando a pele pelo encontro com os ossos.
Alguém que me sangrasse como se sangram porcos, fazendo um orifício pelo caminho da axila, alguém pra expulsar, mãos fortes, brutas, me segurando pra não escapar, fazendo ecoar o grito agudo até o outro lado do morro, talvez fizesse do órgão não uma bola recheada do pútrido, talvez de bexiga ele passasse a esponja, como o pulmão, podendo se inflar, se não de sangue, talvez de ar, como uma quase ausência, com espaço pra respirar.

Um comentário:

  1. Troque o sangue
    pelo vinho tinto.
    É mais estético,
    já que o ético é
    esquelético.
    kassiaindia

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