terça-feira, 24 de março de 2015

Estaria casada agora se você tivesse deixado
De manhã faria nossos pães
Mas você ficou brincando de não aceitar o amor
Achou bonito, não sei
Estaria separando roupas claras das escuras e os bons grãos dos ruins
Mas você se debruça como a cerejeira, você, tão século XIX
Sobrou só o pano daquilo que te cobria no desenho
Você não deixou
Cobrou o pedágio, as taxas, corveia, banalidades
Na hora das mãos espalmadas, só grito e espuma
Na hora de aquecer os pés defronte à TV, sobrou o cheiro incessante do cloro, corrosivo alvejante das sensações
Sobrou a falta
Restaram as fatias frias do tomate – com as sementes incrustadas, daquele jeito de que você não gosta e que agora faço questão de comer
Sorvo tudo que você detesta, como ostra embebida em suco de limão
Disseram, não morda, não mastigue
E o que escorrega pra dentro finge deslizar ao custo do veículo que lhe faz arder a dor

                                                                                                              (27/01/2015)

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