segunda-feira, 30 de julho de 2012

Hoje, fosse pela inquietação (limbo, limo), fosse pelo ímpeto, colocaria em palavras a noite inteira. A casa é silenciosa como quase nunca se vê - só a menina insone, aquela que vem vagar, impedindo que me entregue ao caminho esponjoso do perder-me. Mas a inquietação é tamanha, que penso ouvir os coaxares dos seres escorregadios de brejo. Canos? Vizinhos com pouca urbanidade? Ecos de Allan Poe? Ou minha intenção de tornar tudo mais sombrio, como a mão que sinto agora por detrás da orelha?
Eu me mostro, mas não apareço. Uns querem se mostrar demais, acham que com essas mesuras vão destoar do que imaginam de mim. Outros querem-me toda desnuda, de uma inteireza outra e nunca visitada, mas preparam espessos anteparos para o descortinar da minha alma. Insuportável. Tanto pertencimento arranjado e (de) onde quero repousar tiraram tudo, sobrou coisa nenhuma, nem pedra pra se fazer de travesseiro. Pareço o homem em chagas, o leproso mendigando por aí, um Jesus disfarçado, testando seus fiéis.
Se me dessem a mão, se percebessem que tenho pele (essa, sim), que minhas mãos só se gelam pra se aquecerem em outras e só se aquecem (como agora) porque sei que, apesar de sublimes, há outras por aí tão vazias quanto as minhas.

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