quarta-feira, 9 de maio de 2012

Gol GTS


Ele tinha um Gol GTS, que, antes estacionado na beira da calçada, agora, nos servia de abrigo do frio que começa nessas épocas do ano. Mas isso eu nunca saberia, pois não entendia nada de carros, apenas um registro possível da cor vinho. Dentro, o fato de ele ter ligado o som criou uma conseqüência de querer acariciar com o dedo médio meu joelho sob a meia calça. Hoje era domingo, tinha sido uma volta na praça e um sanduíche que ele, incessantemente, recheava com os conteúdos das bisnagas coloridas, causando uma leve e óbvia irritação. Tinha dito que voltava até o fim do Fantástico, mas aquela carícia que ora parecia inocente por quase não ser um toque, de tão leve, justamente, e, pelo mesmo fato, trazia um ar vulgar de fim de noite. Já eram onze horas e a intenção, pelo menos, a imediata, era a de se aproveitar do horário dos programas de músicas românticas – cheguei até a pensar que talvez houvesse, ali, pra mim, uma dedicatória. Cruzo as pernas para iterromper os segundos de pensamentos inconclusivos sobre o dedo insistente. De trégua, comento alguma coisa que agora me foge à memória, mas, no sinaleiro, ele entrelaça o braço direito da camisa estampada nos meus ombros e me beija molhado e em memórias de sanduíche – o hálito trazia a realidade e o incômodo da carne. De novo, pensamentos que não se dissolvem em escolha: entro dentro de casa, rodo a chave na fechadura, cumprimento os presentes encolhidos no sofá / me levo no caminho que a mão do dedo médio inventa de fazer pela coxa, subindo a saia de cotton / converso com os outros, comento o programa de televisão / a mão econtra em mim o quente das suas conseqüências / visto a camisola rosa de algodão no quarto para me envolver em babados / meus seios rijos em suas mãos frias……a luz alta atrás interrompe o beijo, há não sei quanto tempo, insistindo na faixa da esquerda. Hoje é domingo (entro na sala?), amanhã é segunda (converso com os presentes?), tem alguma coisa pra aula de física (a camisola rosa?), combinei que voltaria até o fim do Fantástico (rodo a chave?), era só pra ser uma volta na praça (comento o programa da televisão?)…. O carro acelera na velocidade do desencontro do meu pensamento, entre o óleo e a água, não sei pra onde ele me leva, qual escolha, talvez para uma delas, talvez só até o próximo sinaleiro.

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