sexta-feira, 4 de maio de 2012


Quando se acendia o fogão, o cheiro de gás recente avisava que já eram seis e pouco da tarde. O fogo azul atraía um olhar na mesma altura e era hora de tomar banho. Fosse horário de verão – e parece que sempre era –, a luz tanta trazia um contrasenso em relação à necessidade de se fazer janta e avisava que o fim do dia começava a começar.
Logo, o cheiro passava a ser o de tempero de alho, pimenta que se fritava e que se antecipara em diferenças quando, minutos antes, se o amassava no pilãozinho.
E era bom ver o ritual da picação de mistura em frente à novela. Tanta habilidade para descascar a abóbora, o chuchu em suas nervuras…
Como quase uma retribuição, tomava-se banho, shampoo Colorama de mel no cabelinho, sabonete Palmolive, lavava-se a chinela, penteava-se o cabelinho diante da penteadeira.
E a casa rescendia ainda mais e em outros cheiros de comida, aguçando a curiosidade pelo que haveria. Carne de panela, cará com carne moída, macarrão (com feijão), abóbora cozida…
A casa ia se escurecendo – hora de ligar a luz da sala – e o dia ia se acabando, mas a casa, a casa se recheava de pessoas e cheiros e risadas e barulho de moto na garagem e depois tudo ia se assentando e a gente ficava quentinho envolto na roupa de cama. E outros poucos sons sobravam, sons longíquos, de gato, de bicho se acomodando, e a luz só se apagava depois dos desejos de boa noite de olhinhos bem apertados. E o dia tinha acabado e a gente pensava nisso como um suspirinho nos poucos minutos em que se viajava acordado pelo teto sem forro. 

Um comentário:

  1. Saudade de quando tinha criança e casa de mãe.
    Daqui muito tempo lembraremos desse dia e teremos saudade??????????? Como nossos pais? Não. Definitivamente não.

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