segunda-feira, 19 de março de 2012

Sabe o que é bom na vida? A intimidade. Tenho 31 anos (embora não pareça.. hahahhaha...), dos quais, 16, divido uns medos, uns grilos, umas besteiras, umas descobertas, umas novidades, umas palhaçadas, umas alegrias, umas decepções, umas estórias, as minhas estórias com uma figura que, embora em períodos intercalados não estivesse convivendo um tal de cotidiano, esteve sempre presente.
Sempre fui quem conversasse com todos na sala de aula, das colegas evangélicas aos meninos do fundão, dos gays aos playboys, dos esquecidos aos populares... Anyway... Eu, na verdade, tentava me aproximar dela. Sentava na frente com uma colega meio left over. Era tímida (quem diria?), nunca olhava direto nos olhos, desviava o azul aparente por detrás das lentes ovaladas. Usava um colarzinho do Corintians (é verdade...), uniforme do Messias Pedreiro com a gola azul, calça jeans da HP desfiada, tênis marrom.
Foi assim que começou. Mas começou mesmo quando o meu primeiro namorado, Renato, terminou comigo bem na época das provas bimestrais (tinha coisa pior?? rsss) e eu, desolada, pedi socorro a uma amiga da época que simplesmente não deu a mínima. Do outro lado, a figurinha Luana Bernardes me ligou de orelhão, disse o que tinha acontecido e ela saltou de um ônibus pra ir chorar comigo lá em casa... (ai, os 16 anos...).
Depois disso, pronto, comprar uma agenda que fosse no centro da cidade era desculpa pra gente se encontrar e ela emendar um pouso lá em casa... rsss... aliás, acho que ela morava mais no número 800 da rua Tabajaras do que em qualquer outro lugar. E ligávamos uma pra outra quando chegávamos em casa depois da aula. Ajudei ela a desabrochar umas coisas que sempre estiveram nela, tentava estudar biologia, tentava acordar ela de manhã (não mudou nada...), consolava, derrubava as minhas lamentações sobre ela também, e as fofocas e as paixõezinhas que dividíamos e as músicas e os livros e os poemas que decorávamos, tudo o que era novidade e tudo que era o repisar de todas as coisas, a relação com a mãe, os amores que deixavam sempre rastros e rastros.
Nesses anos todos ela casou e mudou, e mudou mesmo e sumiu, sumimos, mas agarrei ela de volta, eu casei, eu mudei, ela não sumiu, ela virou perua (rsss... brincadeirinha...), sabe tudo de maquiagem e unha, ela bateu o pé e foi ser enfermeira, talento velado, e deu um banho em tanta gente e em tantos ciclos, e veio morar em Brasília, às vezes se afasta, se estica pra lá, eu quero puxar de volta como um elástico, eu gosto dela, eu preciso dela, eu preciso da gente, da nossa estória, do nosso silêncio (que eu quase não deixo acontecer...rss), do nosso não-fazer-nada-na-frente-da-tv, das manias dela, das minhas manias de consultá-la, admirá-la, vê-la explicar, vê-la me entender, me saber como pouquíssimos, de saber que não estou só, que não sou só eu no mundo com o travesseiro encharcado de ideias que só existem na minha cabeça, porque ela é o meu outro olho que pode ver por dentro e por fora de mim, ela me deixa ser, mesmo quando briga comigo e me toca em feridas, ela me faz me encontrar e ser. Apenas ser.

Um comentário:

  1. eu queria comentar cada período desse texto aí, mas né...
    a parte q vc tentava me acordar de manhã me fez rir, a parte q vc me admira me fez chorar, e a parte q vc diz q eu dei banho em muita gente é verdade, todo dia no plantão, kkkkkkkkkkkk

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