terça-feira, 17 de abril de 2012

Dia 19 de agosto de 2008, quase há quatro anos, foi quando cheguei a São Luís pela última vez. Na noite anterior, uma decisão mudava meu rumo de novo. Fim do fim, começo e recomeço. Sabia que acabara. Ali, seriam, definitivamente, duas estradas.
Agora, chego um dia depois de um fim. Mas o fim de verdade, a morte. E o recomeço? Quando me separei havia um sentido de alívio somehow. Olhava o mar como algo que acalma e que convida ao abismo, à vertigem do sem-fim. Agora, não. Agora, parecia não haver nada de errado. Se apegar menos aos entes queridos? Substituir aquele que esteve presente e não está mais? Que recado, que resolução pode haver?
Hoje o signo falou alguma coisa de keep walking. E é o que vou fazer. Só isso. Minha função é ligar o botão, só isso. Levantar da cama, me empurrar pro meu cotidiano.
Mas a vida insiste. A vida insiste aqui e lá. Ontem, na volta pro hotel, fosse outro dia, qualquer outro dia, eu notaria. A vida insiste e eu não querendo ver vi. Um rapaz sem camisa tocando cavaquinho numa cadeira na calçada, calçadas estreitíssimas onde se colocam mesas mais estreitas ainda e jogam-se jogos que não sei  o que são, o salão Styllus, com 2m², onde o próprio cabelereiro é careca e faz o corte da moda no pré-adolescente, bancas de peixe e camarão, a pichação escrita “blek” no muro, um cachorro esperando o outro no beco, e um outro tentando mastigar qualquer coisa, o velho com a almofada no muro pra apoiar os cotovelos, todos vendo o movimento, uma que sai de banho tomado pralgum evento, o açougue, o ponto de ônibus, as crianças, as senhoras, as pernas, as chinelas, as cabeças, todos numa segunda-feira, num trem pras estrelas, tudo se mostrando pra mim, insistindo como pontos coloridos num mapa, vagalumes num brejo escuro.
São Luís é dor e é redenção.

3 comentários:

  1. A vida insiste sim
    a vida insiste pra mim
    a vida insiste pra ti
    insiste tanto, que nos faz
    ir pra outros lugares.
    Não podemos substituir nada.
    Se substituimos algo é porque aquilo nunca existiu, mas não é o nosso caso. Somos inteira o bastante, te fiz gente o bastante, te reconheço o bastante, tu és integra o bastante. Cada dia que passa tenho mais orgulho de ter vocês como minha familia. Maíra, Itamar e Raoni, desconfio de gente que não ama os bichos como nós amamos.
    Foi muito difícil gente, foi e está sendo difícil Maíra, imagino você olhando São Luiz ,que nunca fui, e pensando num novo recomeço.
    Tenho foto de vocês espalhadas por todos os lugares , no meu quarto, na minha sala de aula, na porta da faculdade, no laboratório de escultura, por onde ando quero ser seu par...recomeço todos os dias, mas nunca esqueço quem sou. Sou assim mãe de vocês...

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  2. Adoro a sua percepção e a sua sensibilidade....apesar de tudo, que São Luís sempre lhe desperte o desejo de voltar! Bjos da amiga!

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    1. Amei teu comentário, Isabela... a sensibilidade também está em ti...de perceber... bjs

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