segunda-feira, 9 de abril de 2012

Não sei por que, mas parece que o Jardim América era muito mais quente naquela época. Não sei se eram as ruas de terra e as árvores que ainda não tinham crescido aquele ar desértico. Ou o fato de a gente não separar o que era viagem e realidade, em cima de uma mobilette, fazendo crer que toda aquela terra vermelha eram os cenários de Easy rider. Tudo era mais simples e havia paixão. Bastavam dois shorts, uma calça pra sair à noite, um pôster na parede e um toca-discos portátil.
Tudo isso ficou pra trás junto com a ingenuidade, a vontade de mudar as coisas, pensar em Jesus Cristo como um hipponga, um John Lennon.
E refrescar as tardes tão longas com q-suco de groselha sentado na calçada. A gente sentava na calçada, no chão. Tocava-se violão, fazia-se serenata, andava-se a pé pelas ruas em zigue-zague. Todos juntos, todos em bando. Éramos um grupo, grupos, cantigas que se cantavam, músicas que se conheciam. Alguém tirava as letras das músicas românticas e o caderninho com todas elas era uma relíquia.
Hoje eu fico triste de lembrar de tudo isso, a sombra fresquinha do flamboyant na porta da igreja, os cabelos nos ombros, ao vento na motocicleta, a loja de discos no centro... saber de tudo isso e parecer não poder fazer nada. Hoje a mobilette não embala nenhum sonho, está encostada num muro... nada embala nenhum sonho, manjar com ameixas, carne cozida com cenoura, pequenos carinhos pra mim mesmo e que hoje passam batido como um passante, como qualquer um na fila do supermercado. Ter tão pouco e querer e poder tanto. Ter tanto e não ter e querer nada.

3 comentários:

  1. Tudo isso ainda existe porque aconteceu.
    É uma pena não existir saudade do futuro...

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  2. Oldies, aber nur die besten!

    ...when our drug was friendship
    and Xpto looked like George Harrison:
    my sweet Lord.

    (keep on, keep on: kung foo fightin')

    Daddy Cool (by Boney M - unter 55 kg)

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