terça-feira, 3 de abril de 2012

A mecânica das borboletas

O mundo, pra ser visto, o mundo deve ser visto a um passo à frente da visão.

Sentidos. Tato, cheiro. O cigarro de Rômulo, a gasolina queimada da Harley Davidson, os corpos se roçam no chão, mãos fortes que seguram o seio pequeno.
Tudo é bem masculino, o cenário, uma oficina mecânica, uma cozinha mínima. Mas mesmo na força, na masculinidade, nos braços em pelos que saem em direção ao outro, na fala grave, sôfrega que cospe sobre o outro, em tudo isso também há fragilidade.
As questões de sempre e sempre e os temas que passam por gerações. Abandono, incapacidade, estagnação, ciúme, resignação. O teatro é eloquente, é voz que fala mais alto, mas é tão real, tão agora, meu, seu.
Nem Remo ou Rômulo estão corretos (quem está?). Não é só sobre perdão. Como perdoar? A única saída é dar uma chance, se dar uma chance, pros sonhos, sonhar em cima de uma motocicleta, se encontrar do outro lado do mundo. E, talvez, agora, ainda mais distantes, os irmãos nunca estiveram tão próximos.

(No finalzinho, quase ninguém ali, mas eu olhando, uma cena bonita. Uma criança de uns oito anos, talvez filho da Ana Kutner, veio em direção a ela e a abraçou de ventre, depois chegaram os outros atores, quase um a um, todos abraçaram em conjunto a criança e saíram juntas, como que comemorando, parecia sensação de dever cumprido, de mais um dia. Todos saíram juntos, abraçados. Me pareceu que o teatro é isso, um tipo de família, pessoas sendo, sendo juntas. Quanta coisa pra ir pra casa junto...)

5 comentários:

  1. O mundo fica mais bonito visto a partir de uma borboleta.Começa como larva e permanecesse assim por um bom tempo, depois se transforma,sofre uma completa metamorfopse e finalmente se transforma num lindo ser.

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  2. Vi a entrevista dele no Jô. Ele falava lindamente da peça, quero um dia assistir, pois só a arte sobrevive. O resto não passa de coisas lindas que vamos fazendo questão de matar.

    A arte é mais bela que nós mesmos...

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    1. Eriberto é ótimo: lindo, inteligente, talentoso e de uma simpatia sem limites. Adoro

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  3. Eu assisti no Rio dois dias, garanto a vcs que vale muito a pena.

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  4. A peça é linda mesmo... atual, verdadeira, acontecendo de verdade para os sentidos como o cheiro da graxa... e nasceu de um tempo que o autor estava na fazenda do paulo josé no rio grande do sul, observando a lida, o ritmo natural das coisas, dos animais... todas essas verdades...

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